Cine Santa Tereza, tanta história pra contar. Muitos desafios perpassados, se suas paredes pudessem falar, revelariam muitos segredos antigos e novos sobre a capital mineira.
Localizado na rua Estrela do Sul, 89, em plena Praça Duque de Caxias, a antiga edificação resistiu ao tempo. Se manteve firme frente ao abandono para ressurgir e ocupar o lugar que jamais deveria ter abandonado: xodó do bairro Santa Tereza.
A população do bairro, afinal, é a grande responsável pela reforma do edifício, mas falaremos sobre isso adiante. Neste texto, vamos contar tudo sobre a história do Cine Santa Tereza e porque ele é tão importante para os moradores da zona leste de BH. Acompanha na leitura!
Por que o Cine Santa Tereza é uma raridade?
Na década de 80, praticamente todos os cinemas de rua de Belo Horizonte foram fechados. A novidade eram os grandes Shopping Centers que concentravam as atenções das famílias. Era o início de uma época dedicada ao grande prazer do consumo.
Ficou difícil para o pequeno cinema disputar com as grandes e modernas edificações. Afinal, estas concentravam todas as comodidades necessárias para uma capital do sudeste brasileiro:
- estacionamento;
- praça de alimentação;
- fast food;
- várias salas de cinema;
- supermercados;
- parques.
Para a provinciana Belo Horizonte, o Cine Santa Tereza, assim como os outros pequenos cinemas de bairro, ficou ultrapassado. Diversos estabelecimentos do gênero precisaram encerrar as atividades. O videocassete, talvez, tenha tido um papel bem importante no desinteresse das pessoas pelos antigos cinemas e teatros.
- Palladium;
- Art e Tamoio;
- Pathé;
- Nazareth;
- Roxy;
- Royal;
- Acaiaca;
- Odeon;
- Art-Palácio;
- Glorya;
- Guarani;
- Jacques.
Estes são alguns exemplos de cinemas que precisaram fechar as portas na referida época. Antes disso, tal qual o Cine Santa Tereza, tiveram seus dias de glória. Como um espelho do “american dream”, romantismo era um rapaz levar sua garota ao cinema e tomar um sorvete na praça. O Cine Santa Tereza é raro porque foi o único que retornou como espaço público.
Cine Santa Tereza, breve histórico
Hoje em dia a entrada é gratuita, mas nem sempre foi assim. Sua fundação se deu em em maio de 1944, imagine você, em plena Segunda Guerra Mundial. O Edifício Acaiaca, já contava com um abrigo antibombas e BH tinha um elegante prefeito chamado Juscelino.
O filme de estréia foi O Conde de Monte Cristo e o público compareceu em peso para ver de perto a novidade. Ao seu redor, foram surgindo bodegas, mercearias, bares, restaurantes e lanchonetes onde as famílias e a juventude se reuniam para curtir o fim de semana.
O declínio, como relatamos anteriormente, se deu no anos 80 e depois disso, o edifício abrigou casas de show e boates, algumas até de origem duvidosa. Por 11 anos, o edifício projetado pelo arquiteto italiano Raffaello Berti com fortes influências de “art déco”, ficou abandonado até ser resgatado por seus vizinhos.
A luta comunitária pela revitalização do espaço não foi em vão! A restauração foi incluída no Orçamento Participativo da PBH e em 2016 (mesmo o prédio tendo sido adquirido pela prefeitura em 2003). Depois de 2 anos, o Cine Santa Tereza foi reinaugurado.
Como funciona o Cine Santa Tereza hoje?
Graças a intervenção da comunidade, o espaço hoje é totalmente aberto ao público. Agora, se engana quem acha que o processo foi fácil. A verba para a conclusão precisou contar com a contrapartida da mineradora Vale em um pacote de medidas compensatórias pelas intervenções na linha férrea BH/Sabará.
Hoje em dia, é sede de parte do acervo do Museu da Imagem e do Som (daí o nome MIS Cine Santa Tereza) e gerenciado pela Fundação Municipal de Cultural. Além da sala, equipada com projetores, som digital, ar condicionado e 132 lugares. Tem também um espaço multiuso, biblioteca e café.
Funciona de terça a domingo de 10h às 21h e aos sábados de 16h às 21h. A Biblioteca, por sua vez, funciona de terça a sexta de 10h às 19h.
As exibições são de filmes de longa e curta metragem, principalmente produções locais, regionais e nacionais. A entrada é gratuita, com retirada de ingressos 30 minutos antes da sessão.
Escola Livre de Cinema, exemplo de usufruto da população
A Escola Livre de Cinema, coordenada pelo cineasta, roteirista e ator Cláudio Costaval é um perfeito exemplo de como o espaço pode ser bem utilizado pelos cidadãos. A escola que forma várias turmas por ano, encerra o semestre letivo com sessões comentadas e exibições dos trabalhos dos alunos.
Tudo roteirizado, produzido e executado pelos estudantes. Imagina só! É um belo de um privilégio poder exibir seu próprio filme em um cinema de verdade, concorda? A Escola Livre de Cinema tem até ex-aluno premiado em Cannes, você acredita? É o caso do historiador e cineasta André Novais com seu curta metragem “Ela Volta na Quinta”.
Resumindo, pessoal, o Cine Santa Tereza tem tudo a ver com o cotidiano dos belo-horizontinos. Se encaixa perfeitamente e contribui muito para o cenário charmoso e cultural do bairro que já é bem conhecido pela boemia e pelas reuniões superprodutivas de uma certa “turma” que se reunia nas esquinas, sabe?
Então, gostou de conhecer um bocado mais sobre a incrível história do nosso querido Cine Santa Tereza? Agora é só planejar a visita com os amigos e familiares e já aproveitar para almoçar em um dos vários restaurantes da região. Fala a verdade, Santa Tereza é “bão demais”!
Se gostou desse texto, vai curtir também este outro em que falamos sobre os importantes escritores de Minas Gerais, um mais legal que o outro, confere lá! Abraço e até a próxima.